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Pensando bem...

Foto: Frederico Mendes

 

 

 

 

 

Não deve ter sido por acaso que o primeiro trabalho de Waldemar Falcão foi atuar na montagem carioca do emblemático musical "Hair". Ali estão reunidos alguns dos principais elementos que iriam pautar toda a sua carreira profissional: música e espiritualidade, inquietação e arte, sonho e trabalho. São muitos caminhos, nem sempre correndo paralelos, e Waldemar os percorreu todos.

 

A partir do teatro, aproximou-se da música estudando flauta com Norton Morozowicz e teoria musical com Esther Scliar. A estréia profissional como flautista aconteceu em 1975 numa peça teatral, o Titus Andronicus de Shakespeare, dirigido por Luiz Antonio Martinez Correa, onde trabalhavam Carlos Vereza, Marieta Severo, Rodrigo Santiago, Analu Prestes, entre outros.

 

O ano de 1976 foi o do autoexílio em Londres, desanimado pela censura e as dificuldades impostas aos artistas pela ditadura. Lá, sobrevivia tocando violão e cantando nas estações de metrô e escrevendo artigos para o nosso querido e saudoso Jornal de Música.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A volta foi rápida, já em 1977, e o teatro, de novo, por perto. Desta vez o texto era de José Vicente, “A Chave das Minas”, e a música de Paulinho Machado. No Teatro Ipanema, dirigido por Ivan Albuquerque, com Rubens Corrêa, Eduardo Conde, Leyla Ribeiro. A banda ficava em cena durante toda a peça, e nela tocavam, além de Waldemar e do próprio Paulinho, o baixista Arnaldo Brandão.

 

Daí em diante, trabalhou na banda de apoio de artistas como Zé Ramalho, João de Aquino, Amelinha, Fagner, participando de shows, turnês e gravações destas e de outras feras da MPB, tais como João do Valle, Moraes Moreira, Armandinho e o Trio Elétrico Dodô & Osmar, Elba Ramalho, Jorge Mautner, Elza Soares, A Cor do Som.

 

Produtor e homem de estúdio, cursou engenharia de gravação na legendária Recording Workshop de Ohio em 1982, e trabalhou como Label Manager da CBS (atual Sony Music), coordenando o lançamento de trabalhos como o primeiro disco solo de Sting,” The Dream of the Blue Turtles” e a estréia do canadense Bryan Adams no mercado nacional, além de assessorar seus artistas internacionais. Durante este período, trabalhou com Nina Hagen, James Taylor, Tony Bennet, Richard Clayderman, Loredana Berté, Chuck Mangione, Pablo Milanez, entre muitos outros.

 

Como produtor e engenheiro de gravação, foi responsável, por exemplo, pela sonoridade e co-produção do disco "Planeta Azul" de Mário Adnet, que foi premiado com o troféu "Chiquinha Gonzaga" como um dos dez melhores discos independentes de 1983; em seguida, trabalhou como músico, engenheiro de som e co-produtor do cult "Till We Have Faces", do guitarrista inglês Steve Hackett (ex-Genesis), cujas bases foram gravadas no Rio em janeiro de 1984 e finalizadas em Londres em junho do mesmo ano.

 

Fotógrafo, expôs suas visões da natureza em 1992 na Grande Galeria do Centro Cultural Cândido Mendes e em 1994 na Livraria Bookmakers. A mostra levava o nome de "Janelas Aéreas". Quase todas as fotos tiradas da janela dos aviões que freqüentava com tanta assiduidade. Coisas da vida de músico on the road. Até o fim deste ano de 2015 uma nova exposição de fotos deverá estrear no Rio de Janeiro.

 

Astrólogo de formação humanista, foi peça fundamental na estruturação do sindicato da classe no Rio de Janeiro (Sinarj). Desde 1987 tem tido atuação marcante no meio astrológico e espiritualista, participando de congressos, seminários e palestras, escrevendo artigos para publicações especializadas e desenvolvendo um trabalho de aconselhamento e consultoria que tem obtido ampla receptividade.

 

No meio de tudo isso, ainda resolveu traduzir o "Nostradamus", da astróloga e psicanalista Liz Greene, um romance escrito na primeira pessoa, onde o profeta e astrólogo revela fatos inéditos — e incríveis — de sua vida. Em português o livro recebeu o título de "Nostradamus: uma biografia romanceada", lançado pela Ediouro.

 

Isto acabou resultando num convite irresistível feito pela jornalista Luciana Villas-Boas para assumir a chefia da Editora Nova Era do Grupo Record, especializada em assuntos da espiritualidade, tarefa com que esteve envolvido de 1995 até meados de 1999. Em julho do mesmo ano foi convidado para ser o responsável pelo catálogo da Editora Elevação, uma editora nova de São Paulo, e passou a "morar" na Ponte Aérea por um ano.

 

Julho de 2000 foi a data da volta para o Rio de Janeiro e o fim do ciclo como executivo das casas editoriais. Fascinado por esta nova mídia chamada Internet, envolveu-se com o portal Globo.com, onde colaborou supervisionando a área de religiões e espiritualidade até o final de 2001.

 

Atualmente se divide entre as atividades de Aconselhamento Astrológico, Produção Musical e Literatura, sendo que esta última teve a sua estreia no ano de 2005. Até esse momento, já são três livros publicados: “Encontros com médiuns notáveis” (Nova Era, 2005), já na 6ª edição, “O Deus de cada um” (Agir, 2006), e a “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir, 2011), onde atua como mediador e editor de um diálogo entre Frei Betto e Marcelo Gleiser.

 

No meio desta vida "multitask", segue nas gravações de seu primeiro disco solo como cantor, compositor e flautista, que já conta com a participação de Mario Adnet e Steve Hackett, além de Fernando Moura, Fernando Gamma, Chico Jullien, Jaques Morelenbaum, Rui Motta e Manassés de Souza entre outros craques, todos seus amigos de estúdio e estrada.

Sua mais recente atuação como cantor, compositor e produtor musical acabou acrescentando duas novas canções ao seu repertório, numa delas tendo como parceiro ninguém menos do que o poeta gaúcho Mario Quintana: convidado pela produtora "aprata", de Porto Alegre, para participar da "Coleção Mario Quintana para a Infância", encarregou-se de produzir o CD derivado do livro infantil "Sapo Amarelo", um dos cinco que Quintana escreveu ao longo da vida. Com isso, musicou o famoso poema "Das Utopias", onde dividiu os vocais com seu filho, o ator e cantor Gabriel Falcão, e compôs uma canção em homenagem ao poeta que recebeu o título de "Tema para Quintana", na qual dividiu os vocais com a atriz e cantora Ursula Corona.

 

E é exatamente na música que Waldemar compõe que melhor podem-se ouvir musas tão diversas. Refinada e espiritual, mas ao mesmo tempo acessível e saborosa, a música de Waldemar é única, uma espécie de abraço terno entre vários elementos, várias cores, vários espaços. Para o seu ouvido, a moda de viola dos nossos cantadores e o canto das mulheres da Letônia soam harmoniosamente, e o forró nordestino tem mais coisas em comum com a música clássica da Índia do que poderiam supor nossas distrações quotidianas.

 

É um trabalho vasto, substancial e generoso, um trabalho raro no tumulto ralo dos nossos dias, e que reflete com precisão os vales, oceanos e colinas da sua alma.

 

Ana Maria Bahiana

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